sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Testemunho Emanuel Amaral


Na conclusão da minha apresentação , na sessão de certificação, achei importante destacar três tópicos que, penso eu, naturalmente se entrelaçam

*Agradecimentos

*Alvos futuros

*O valor destas “Novas Oportunidades”

Não posso deixar de referir que, desde há muito, notei no que lia e escutava, que o programa das Novas Oportunidades não gerava opiniões consensuais. Afinal, como tudo na vida. Essa razão, confesso, fez aumentar a dose de expectativa que sentia ao inscrever-me nele.

Ao assistir às primeiras sessões notei que nas suas linhas orientadoras existe, implicitamente, o valorizar a experiência de vida, o puxar para a escola quem dela já saíu há muito, o estimular o gosto de estudar e analisar criticamente o que nos rodeia.

De acordo com as pesquisas que tenho feito, observo com opiniões diversas.

Por exemplo, a certa altura, na leitura de um blogue, deparei-me com este texto:

“Sabemos como estas novas oportunidades se destinam a comprar as pessoas. Não lhes trazem mais pão, nem mais luz. Trazem-lhes a mentira. A fuga ao olhar sobre o passado, e como se deitaram por terra oportunidades. Agora seria preciso conquista-las. Com trabalho e determinação. Não com promessas preguiçosas e mentirosas.”

Não podia ficar indiferente, especialmente agora ao ter terminado o meu percurso neste programa.

Realmente sei que o facilitismo se infiltra em todas as actividades humanas. Quando existe um trabalho a ser feito, uma avaliação necessária ou um patamar de exigência requerido, há quem demonstre honestamente empenho no caminho e quem, por outro lado, siga o atalho da preguiça, da cunha, enfim, da obtenção imerecida do resultado.

Se a pessoa que escreveu este texto ficou desapontada por, em alguma altura, ter observado injustiça na avaliação e certificação de qualificações a algum adulto, isso não é um exclusivo das Novas Oportunidades. Encontramos essa indesejável tendência em muitas situações. Infelizmente.

Mas, devido a isso, apelidar globalmente este método de avaliação como um antro de “promessas preguiçosas e mentirosas”, parece-me, em si, um erro. Dizer que os alunos são “comprados” parece-me um tal dislate, que nem o recurso a uma hipérbole justificaria.

Os agradecimentos que faço visam dar o meu testemunho nesta questão.

Primeiro tenho que agradecer aos meus colegas. Vi trabalho e esforço. Vi adultos presentes numa sala de aula, depois de um dia de trabalho, com família, e mais trabalho em casa, à sua espera. Nessas condições vi homens e mulheres que estavam atentamente a escutar, a fazer perguntas aos professores e a dialogar com os colegas. Vi esses meus colegas a irem para casa com a intenção de, após terminada a lida caseira, colocarem-se em frente ao computador e fazerem os seus trabalhos de casa. Vi-os receberem comentários sobre o que tinham feito e, quando necessário, voltarem a reescreverem-no ou a pesquisar novas informações.

Se isto não é “trabalho e determinação”, não sei o que poderá ser.

Agradecer aos professores. Dar aulas a adultos não é o mesmo que as dar a jovens. Usando uma expressão popular, “a cabeça já não é o que era”, já não temos a agilidade que caracterizam os anos juvenis. E o que cérebro vai conseguindo fazer, ocupamo-lo com a ansiedade dos dias. Igualmente voltar a encarar toda a estrutura da escola, de uma sala de aula, de um professor à nossa frente, de uma avaliação, dá-nos uns arrepios na espinha. Temos a tendência de achar que o tempo que passou desde que deixamos a escola, fragilizo-nos, emergidos que ficamos na rotina do dia-a-dia, e que por isso vamos fazer fraca figura. Olhamos para os mais jovens com aquele receio de parecermos ridículos, confesso. Por isso os professores tiveram - e fizeram muito bem! - que adaptar-se a um tipo diferente de alunos. Demonstraram paciência, apoio e flexibilidade.

“Mentira”,” preguiça”? Só pode ser dito por quem nunca entrou aqui.

Falando do futuro. Escolhi para o tema do meu trabalho um verso do grande poeta andaluz, António Machado: “Se hace camino al andar.” Isso porque esta ocasião serviu para reflectir no meu percurso de vida, o caminho que já fiz. As Novas Oportunidades foram uma revisão do passado para pensar o trilho futuro. Desejo continuar a aprender. No que faço, manter-me actualizado. Seja por um caminho mais autodidacta, seja por um ensino mais formal, com as possibilidades do horário pós-laboral, ou do uso das novas tecnologias no ensino on-line. Este processo deu-me confiança e incentivo para tal.

Para dar uma espécie de resposta a quem chama as novas oportunidades de “nomes feios”, eu usaria uma outra citação: “Por meio de uma propaganda inteligente e constante, pode-se fazer crer que o céu é inferno e, inversamente, que a vida mais miserável é um verdadeiro paraíso.” - Adolf Hitler, Mein Kampf (Eu sei que o autor destas palavras não foi grande coisa, mas não deixa de ter certa razão nesta frase.)

Não é por se repetir insistentemente que as novas oportunidades não são um projecto sério, que isso se torna verdade.

A verdade consiste em entender o espírito de um projecto, de um programa, vivê-lo com seriedade, observar a motivação e o empenho dos demais, e então, tirar conclusões.

A verdade envolve conhecer as pessoas. Conhecê-las antes, durante e depois de terem sido certificadas. Saber o que fizeram, o grau de empenho que ostentaram e o que mudou na sua perspectiva para o futuro.

Pode parecer para alguns uma frase batida, mas não encontrei uma melhor para terminar a minha apresentação e assim definir o que para mim foram as novas oportunidades.

Aprender compensa. Sempre!

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