Candidata: Isabel Gonçalves
Profissional: Dr. Sérgio Mendes
Aquilo de que realmente gosto e desperta o meu interesse é a leitura. O último livro que eu li foi As Intermitências da Morte de José Saramago.
O autor nasceu a 16 de Novembro de 1922 na Azinhaga. Ganhou o Nobel da literatura em 1998. Sendo ateu assumido nota-se na sua forma de escrever deixando os leitores cristãos um pouco desconfortáveis ao ler certas passagens dos seus livros, eu mesma senti uma certa dificuldade, mas não só nas suas ideias mas também na sua forma de escrever.
O facto de ele escrever frases muito compridas, usando uma pontuação muito própria, sem travessões ou pontos finais substituindo-os por vírgulas, torna-se um pouco difícil a habituação à sua leitura. Depois de nos habituarmos torna-se simples, fácil e até agradável. Comigo passou-se assim. Tentei por diversas vezes ler alguns dos seus livros e acabava sempre por desistir, chegando mesmo a questionar o seu valor. Ao iniciar a leitura deste romance, pensei que valia a pena fazer um esforço e tentar entender esta forma de escrever. O tema era bastante interessante, a abordagem do que temos mais certo, a morte. Fiquei surpreendida pelo meu constante interesse. Lia página a página não dando pelo passar das horas. Vale sempre o esforço de tentarmos entender outro tipo de leitura.
A história deste livro é muito engraçada. A dada altura a morte resolveu contemplar um país com a sua ausência. Todos festejaram e acharam que lhes tinha saído a sorte grande. Mas depressa se aperceberam do grande caos provocado pela alteração do ciclo da natureza.
Os velhos não morrem e ficam a definhar pelos lares ou em casa dos seus familiares. Os doentes, em estado terminal, não terminam e os hospitais ficam super lotados. O país fica num caos, o governo não sabe o que fazer, assim como as famílias ficam sem saber como agir.
A dada altura uma família pobre lembra-se de levar o seu velhinho que estava para dar o último suspiro para o outro lado da fronteira, com o intuito de que morra à vontade. Semelhante ideia foi seguida por outras famílias mas tudo num grande segredo, optando pela clandestinidade. Esta atitude provocou um grande embaraço ao governo que se viu a braços com um conflito ao nível das relações políticas internacionais.
A nível interno as coisas também não estavam melhores. Estávamos perante uma crise social e económica como nunca se tinha visto. As empresas ligadas ao ramo da morte começaram a abrir falência. As companhias de seguros não sabiam o que fazer. A igreja deixou de saber o que responder aos seus fiéis pois todo, a sua doutrina baseia-se na ressurreição e vida eterna depois da morte.
De todos os quadrantes era pedida a intervenção do governo para que arranjasse solução para o problema. Como não conseguia resolver, não teve outro remédio senão coligar-se com a máfia que rapidamente se organizou e arranjou forma de transportar as pessoas para o outro lado da fronteira.
Passados sete meses a morte resolve reaparecer de uma forma inovadora, através de um pré-aviso. As pessoas recebiam um determinado envelope de cor roxa para se prepararem para morrer passado oito dias. Esta era a regra. Mas não há regra sem excepção. Um envelope foi devolvido para grande espanto da morte que o voltou a enviar. Todavia voltou a ser devolvido. Sem saber o que se estava a passar e estranhando o sucedido a morte resolveu ir conhecer o individuo que se atrevia a desafiá-la. Foi a sua casa ver o que se passava e constatou que estava perante um simples violoncelista de 46 anos que vivia tranquilamente na companhia do seu cão. Ficou impressionada e resolveu entregar-lhe o envelope pessoalmente. Para isso teve que se humanizar e transformou-se numa bela mulher. Compra os ingressos e vai assistir ao concerto do músico. No final apresenta-se e procura atingir os seus objectivos. Em vão porque ficou tão atrapalhada que adiou a entrega. Tentou novamente num encontro ocorreu num jardim em que lhe disse que lhe queria entregar algo, mas também não o fez. Numa última tentativa, e não podendo adiar mais pois estava a chegar ao limite, vai a casa dele e bate à sua porta. Assim que é aberta, num impulso, beijam-se acabando por fazer amor na sua cama. Enquanto o músico dormia a morte levanta-se e procura um local para deixar o envelope. Ao invés de o deixar, pega num simples fósforo e queima o subscrito. Volta para a cama para os braços do seu amado e adormece. No dia seguinte ninguém morre.
Para mim o mais interessante do livro foi a humanização da morte. Neste processo foi com surpresa que verifiquei que ela sentiu necessidade de amar e ser amada, sentimento que é privilégio do ser humano.
Profissional: Dr. Sérgio Mendes
Aquilo de que realmente gosto e desperta o meu interesse é a leitura. O último livro que eu li foi As Intermitências da Morte de José Saramago.
O autor nasceu a 16 de Novembro de 1922 na Azinhaga. Ganhou o Nobel da literatura em 1998. Sendo ateu assumido nota-se na sua forma de escrever deixando os leitores cristãos um pouco desconfortáveis ao ler certas passagens dos seus livros, eu mesma senti uma certa dificuldade, mas não só nas suas ideias mas também na sua forma de escrever.
O facto de ele escrever frases muito compridas, usando uma pontuação muito própria, sem travessões ou pontos finais substituindo-os por vírgulas, torna-se um pouco difícil a habituação à sua leitura. Depois de nos habituarmos torna-se simples, fácil e até agradável. Comigo passou-se assim. Tentei por diversas vezes ler alguns dos seus livros e acabava sempre por desistir, chegando mesmo a questionar o seu valor. Ao iniciar a leitura deste romance, pensei que valia a pena fazer um esforço e tentar entender esta forma de escrever. O tema era bastante interessante, a abordagem do que temos mais certo, a morte. Fiquei surpreendida pelo meu constante interesse. Lia página a página não dando pelo passar das horas. Vale sempre o esforço de tentarmos entender outro tipo de leitura.
A história deste livro é muito engraçada. A dada altura a morte resolveu contemplar um país com a sua ausência. Todos festejaram e acharam que lhes tinha saído a sorte grande. Mas depressa se aperceberam do grande caos provocado pela alteração do ciclo da natureza.
Os velhos não morrem e ficam a definhar pelos lares ou em casa dos seus familiares. Os doentes, em estado terminal, não terminam e os hospitais ficam super lotados. O país fica num caos, o governo não sabe o que fazer, assim como as famílias ficam sem saber como agir.
A dada altura uma família pobre lembra-se de levar o seu velhinho que estava para dar o último suspiro para o outro lado da fronteira, com o intuito de que morra à vontade. Semelhante ideia foi seguida por outras famílias mas tudo num grande segredo, optando pela clandestinidade. Esta atitude provocou um grande embaraço ao governo que se viu a braços com um conflito ao nível das relações políticas internacionais.
A nível interno as coisas também não estavam melhores. Estávamos perante uma crise social e económica como nunca se tinha visto. As empresas ligadas ao ramo da morte começaram a abrir falência. As companhias de seguros não sabiam o que fazer. A igreja deixou de saber o que responder aos seus fiéis pois todo, a sua doutrina baseia-se na ressurreição e vida eterna depois da morte.
De todos os quadrantes era pedida a intervenção do governo para que arranjasse solução para o problema. Como não conseguia resolver, não teve outro remédio senão coligar-se com a máfia que rapidamente se organizou e arranjou forma de transportar as pessoas para o outro lado da fronteira.
Passados sete meses a morte resolve reaparecer de uma forma inovadora, através de um pré-aviso. As pessoas recebiam um determinado envelope de cor roxa para se prepararem para morrer passado oito dias. Esta era a regra. Mas não há regra sem excepção. Um envelope foi devolvido para grande espanto da morte que o voltou a enviar. Todavia voltou a ser devolvido. Sem saber o que se estava a passar e estranhando o sucedido a morte resolveu ir conhecer o individuo que se atrevia a desafiá-la. Foi a sua casa ver o que se passava e constatou que estava perante um simples violoncelista de 46 anos que vivia tranquilamente na companhia do seu cão. Ficou impressionada e resolveu entregar-lhe o envelope pessoalmente. Para isso teve que se humanizar e transformou-se numa bela mulher. Compra os ingressos e vai assistir ao concerto do músico. No final apresenta-se e procura atingir os seus objectivos. Em vão porque ficou tão atrapalhada que adiou a entrega. Tentou novamente num encontro ocorreu num jardim em que lhe disse que lhe queria entregar algo, mas também não o fez. Numa última tentativa, e não podendo adiar mais pois estava a chegar ao limite, vai a casa dele e bate à sua porta. Assim que é aberta, num impulso, beijam-se acabando por fazer amor na sua cama. Enquanto o músico dormia a morte levanta-se e procura um local para deixar o envelope. Ao invés de o deixar, pega num simples fósforo e queima o subscrito. Volta para a cama para os braços do seu amado e adormece. No dia seguinte ninguém morre.
Para mim o mais interessante do livro foi a humanização da morte. Neste processo foi com surpresa que verifiquei que ela sentiu necessidade de amar e ser amada, sentimento que é privilégio do ser humano.
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