quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

AS TRADIÇÕES

No Natal havia a tradição da Missa do Galo, aquecíamos-nos no Madeiro só um pouco porque ali só ficavam os adultos, cantando canções ao Menino Jesus.


“Entrai pastores entrai,
por esses portões sagrados,
a visitar o Menino,
nessas palhinhas deitado.”
“Entrai pastores entrai,
por esses portões a dentro,
a visitar o Menino,
no seu Santo nascimento."


À hora da missa, a que toda a gente assistia religiosamente, havia o costume de beijar o Menino Jesus. Em casa a refeição era melhorada, e como hoje juntava-se a família, e o sapato também tinha surpresas, um par de meias, uns rebuçados, e era uma festa. O bacalhau com as melhores couves da horta na Consoada, as tradicionais filhós que eu ajudava a fazer, e no dia de Natal e seguintes comia-se o peru que também se tinha criado em casa.


Depois vinham as Janeiras, juntavam-se grupos que iam de casa em casa, cantando, quadras tradicionais, que já tinham cantado os seus avós, e agora iam passando para nós que embora fossemos pela mão dos nossos pais, íamos fixando aos poucos.


“Ainda Agora Aqui Cheguei,
Já Pus o Pé No Balcão,
Logo o Meu Coração Disse,
Que Aqui Mora Bom Patrão.
Ainda Agora Aqui Cheguei,
Já Pus o Pé Na Escada,
Logo o Meu Coração Disse,
Que Aqui Mora Gente Honrada.
A Silva Prendeu-Se à Porta,
Da Porta à Cantareira,
Levante-se daí Senhora,
Venha-nos dar as Janeiras.”


Por norma e mesmo com as dificuldades gerais, toda a gente colaborava com qualquer coisa, quase sempre produtos que a casa produzia, morcelas, chouriças e farinheiras.
Quando mais tarde já um pouco mais crescido fazia a volta, ouvíamos muita vez a desculpa, “ainda não matamos o porco, não temos nada para dar”. Então a miudagem, cantava com malandrice: “esta casa é tão alta, forrada de pau de pinho, os donos que nela moram, têm todos maus….” Depois era preciso dar às de “Vila Diogo”, isto é fugir, e normalmente no dia seguinte pagavam-se as favas, ou na escola, ou em casa, e não raramente nos dois locais. Quando as pessoas eram mais abastadas, ou vinham de Lisboa, davam uma moedita de cinco tostões, e então nós cantavamos que nem uns lírios.


Excerto do Portefólio Reflexivo de Aprendizagens
UM “MUNDO” RECONSTRUÍDO
Carlos Tomé Correia
Maçainhas

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