segunda-feira, 25 de abril de 2011

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Os poetas de Abril

Entre o final da década de 30 e as vésperas do 25 de Abril, foi-se definindo, em Portugal, uma tradição de poesia de resistência, de oposição à ditadura, para a qual contribuíram poetas oriundos de diferentes quadrantes. De uma forma mais disfarçada ou mais aberta, a lírica afirmava-se enquanto poesia combativa, de denúncia da injustiça do regime, do seu aparelho repressivo, pondo sempre em primeiro plano o empenho destes homens na luta pela liberdade de que o país se via privado. A sua voz foi, durante décadas, lamento, protesto, acusação, por vezes animada pela esperança, outras vezes abatida pelo desânimo.
Destacam-se nomes como Manuel Alegre, Sophia de Mello Breyner, José Carlos Ary dos Santos, Miguel Torga ou Natália Correia. Alguns, para além da notoriedade literária, acabaram por se tornar mais populares e conhecidos devido a um outro fenómeno que começa a ganhar importância na década de sessenta, a canção de intervenção. Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Paulo de Carvalho e muitos outros, musicaram poemas dos grandes autores da poesia de resistência.
  Ficam aqui dois belos poemas que mostram a força que a palavra tinha numa época hoje recordada por todos.


“Canção tão Simples”

Quem poderá domar os cavalos do vento
quem poderá domar este tropel
do pensamento
à flor da pele?

Quem poderá calar a voz do sino triste
que diz por dentro do que não se diz
a fúria em riste
do meu país?

Quem poderá proibir estas letras de chuva
que gota a gota escrevem nas vidraças
pátria viúva
a dor que passa?

Quem poderá prender os dedos farpas
que dentro da canção fazem das brisas
as armas harpas
que são precisas?
Manuel Alegre

“Era Uma Vez Um País”

Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais feliz
dos povos à beira-terra

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raíz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
            (…)
            Ary dos Santos

A  Formadora de CLC, Drª Maria da Luz

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